30/03/14

O ecoguerreiro

A defesa do planeta e das criaturas que o partilham connosco era a sua causa de eleição. Deixou um emprego bem pago, amigos e uma vida confortável e viajou para o Oriente longínquo, onde se dedicou a trabalhar para a conservação de espécies ameaçadas. 
Sentiu-se profundamente estúpido quando o panda-gigante lhe fechou as mandíbulas sobre a traqueia, pondo fim à sua carreira como ativista. 

15/03/14

Um belo dia de sol


"Vamos passear," disse-lhe ele. "Está um dia de sol tão bonito." Ela sorriu. Era a primeira vez em anos que a convidava para alguma coisa. Era também a primeira vez em anos que a fazia sorrir com vontade. Subiu ao quarto onde dormia sozinha, no andar de cima, para trazer um chapéu de aba larga. Quando desceu, esperava-a junto à porta, sorridente, com a navalha afiada guardada no bolso do casaco.

07/03/14

Prémios


Os prémios literários portugueses costumam ter duas exigências em comum. 

Exigência nº 1: Que o texto seja original e inédito.

Exigência nº 2: Que o autor nunca tenha sido publicado.

A primeira exigência é mais que compreensível. Já a segunda... O argumento usado costuma ser a vontade de limitar o prémio a autores não publicados para promover a descoberta de novos valores porque os autores que já publicaram não precisarão de incentivo. 

Num mundo ideal, seria realmente assim. Mas, tanto em Portugal como no resto do mundo (com efeitos redobrados por cá pelo mercado literário minúsculo que temos), ser publicado significa para a maioria dos autores uma única coisa: que é possível comprar um livro com o seu nome na capa (salvo rupturas de stock, devoluções de livraria ou falências de editora). Não significa que não precisem de divulgação ou que não lhes faça falta o dinheiro do prémio.

Pode parecer que estou a escrever isto por cobiça, porque estive a ler o regulamento de mais um prémio literário, salivei com a quantia entregue ao vencedor e tropecei na cláusula da não publicação prévia. E foi isso mesmo que aconteceu.